Ajith - A luta para estabelecer o maoismo

  

 

(Naxalbari nº2, junho de 2003)

 

Já há mais de 20 anos desde que o Partido Comunista do Peru adotou o marxismo-leninismo-maoismo (MLM) e quase 10 anos desde que ele foi adotado pelo Movimento Internacionalista Revolucionário (MIR). A década inicial foi uma década de luta e avanço firme nas fileiras do MIR. A seguir da adoção do MLM pelo MIR, em 1993, a luta mundial para estabelecer o maoismo ganhou um impulso poderoso. Desde então, Partidos maoistas envolvidos em guerras populares, mas fora das fileiras do MIR, também adotaram o MLM. Isso acentuou ainda mais as linhas de demarcação ideológica e fortaleceu a luta para estabelecer o marxismo-leninismo-maoismo como comando e guia da revolução proletária mundial. Em um desenvolvimento relacionado, o MIR se fortaleceu ainda mais quando o Centro Comunista Maoista [atualmente, o Centro Comunista Maoista da Índia (CCMI)], um partido com décadas de uma longa história de luta na guerra popular, se juntou a ele. A adoção do MLM impulsionou seus membros participantes a dar ainda mais saltos adiante. O mais significativo deles foi o começo histórico da guerra popular no Nepal, lançada pelo Partido Comunista do Nepal (Maoista) [PCN(M)] e o seu rápido avanço. Novos saltos também foram vistos com a fundação do Partido Comunista Maoista da Itália e do Partido Comunista do Irã (MLM), assim como com o bem-sucedido Primeiro Congresso do Partido Comunista Maoista (da Turquia e do Curdistão do Norte, anteriormente TKP [ML]), que fez um progresso importante na linha do partido. Os avanços feitos por nosso partido na avaliação do passado, desenvolvendo uma perspectiva geral sobre a linha militar e enfrentando as tarefas de completar os seus preparativos, também são um produto direto da luta para apoiar, defender e aplicar o marxismo-leninismo-maoismo, especialmente o maoismo.

O MLM surgiu através da luta e continua a avançar através da luta contra várias tendências direitistas. Na Índia, o PCI (ML) Bandeira Vermelha (BV), tentou acusar a posição do MIR sobre o MLM como sendo Lin Piaoismo. Incapaz de apresentar qualquer argumento substancial, ele tentou confundir a questão lançando a falsa acusação de que o MIR definia o maoismo como o marxismo-leninismo da nova era. Mas o fato é que o documento do MIR “Vida longa ao marxismo-leninismo-maoismo” claramente afirma que “(...) Lênin descreveu a era em que vivemos como a era do imperialismo e da revolução proletária” (A World to Win, nº 20, p. 6, ênfase nossa). Este ataque fraudulento do BV estava bastante alinhado com a tática fraudulenta que ele utilizou para justificar o seu deslize para o parlamentarismo. Será útil examinar a abordagem ideológica que orienta esta tática.

A essência da tática empregada pelo BV consiste em confrontar as posições iniciais do Movimento Comunista Internacional (MCI) contra a compreensão avançada atingida posteriormente. Assim, o BV tentou esconder seu revisionismo parlamentarista se refugiando em uma frase da Proposta de Linha Geral de 1963, que fala da necessidade de dominar todas as formas de luta (a posição explícita deste documento sobre a necessidade de levantar uma luta armada para conquistar o poder político foi convenientemente posta de lado). Mais importante, o BV seguiu adiante para rejeitar a clareza atingida posteriormente pelo movimento maoista, quando ele estabeleceu firmemente o caminho da guerra popular prolongada (ou via chinesa) como o único caminho para a revolução nos países semicoloniais e semifeudais. Para o BV isso foi mais um desvio sectário Lin Piaoista. O que vemos aqui é como o revisionismo lida com o desenvolvimento da ideologia. Ele não estuda o passado para iluminar as tarefas ideológicas atuais, mas para negar o avanço da ideologia. Essa abordagem sempre aparece em várias formas na luta para estabelecer o novo e é importante ter atenção a isto.

O BV estava adiantado em seu caminho para abandonar a via revolucionária quando tentou atacar o maoismo. Mas, muito significantemente, vemos uma semelhança entre as suas conclusões e as do Partido Comunista do Nepal (Machal) [PCN (Mashal)] ou da fração que foi expulsa do CCMI em 2001. Em ambos os casos a questão das eras foi usada para obstruir a adoção do maoismo. O argumento era de que uma vez que a era não havia mudado, não poderia haver nenhum “ismo” novo, ou nenhum desenvolvimento geral da ideologia depois do leninismo. Pode-se falar de um desenvolvimento feral da ideologia proletária quando ele se desenvolve nos três componentes da filosofia, economia política e socialismo científico. Mas, como Mao apontou, “a base é a ciência social, a luta de classes” (Conversas sobre a Filosofia). Isto é, estes desenvolvimentos em todos os três componentes aconteceram com a continuidade do marxismo como guia da luta de classes. Se mantemos em mente os altos e baixos e os avanços feitos pelo MCI desde os tempos de Lênin, não teremos dificuldade em compreender que essa realidade colocou a necessidade de um salto ideológico geral. Foi isso que Mao Tsé-tung realizou.

Refutando o PCN (Mashal), o Comitê do MIR apontou que “Afirmar que o leninismo resolve todas as contradições da era do imperialismo e da construção do socialismo é ignorar a realidade e substituí-la com uma ideia pré-concebida no interior do cérebro do indivíduo. Esta afirmação vem de definições formadas, não de desenvolvimentos materiais, e como consequências grandes acontecimentos transformadores são tratados como triviais e não exigem um maior esforço para desenvolver nossa compreensão. Isso é idealismo subjetivo, não leninismo” (A World to Win, nº20m p. 46-47).

Esta qualificação é igualmente aplicável à fração expulsa do CCMI. Eles afirmavam que “Assim como existem dois estados de desenvolvimento do capitalismo, não havendo um terceiro estado, da mesma maneira no marxismo não pode haver um terceiro estado de desenvolvimento” (citado no artigo do CCMI “Assumir uma posição correta no debate sobre o maoismo”, p.1). Neste caso, o desenvolvimento da ideologia estaria ligado apenas aos estados econômicos!

Outra característica comum tanto do PCN (Mashal) quanto desta fração é a sua suposta defesa de Stalin. Ambas recusam as críticas de Mao a Stalin. Eles afirmam que as suas contribuições não são nada mais do que uma continuação das posições de Stalin. Finalmente, ambas concluem que as contribuições de Mao são apenas iguais às de Stalin. Assim, eles acabam por negar a sua própria posição anterior de assumir o Pensamento Mao Tsé-tung como um novo estado! Ou ao invés disso, eles só conseguiram demonstrar que sua adesão anterior ao Pensamento Mao Tsé-tung estava na verdade escondendo um revisionismo profundamente enraizado. Vemos aqui ainda outra variação da tática revisionista de colocar o velho contra o novo. Além disso, o seu ataque ao maoismo, muito próximo do ataque de Enver Hoxha, levanta uma questão importante. Como devemos compreender a dialética de continuidade/ruptura no desenvolvimento da ideologia proletária?

Sem dúvidas, Mao Tsé-tung herdou e aplicou as contribuições de Stalin. Apontamos especialmente as contribuições de Stalin na luta contra as correntes antileninistas quanto às questões internacionais, a construção do socialismo e questões específicas da Revolução Chinesa. Além disso, ele teve um papel de direção no MCI na luta para defender Stalin dos ataques maldosos dos revisionistas kruschevistas. Mas, e esse era o aspecto principal, ele o fez rompendo com as ideias antiquadas e os verdadeiros erros de Stalin. A continuidade com o legado revolucionário de Stalin, ou mais amplamente com o legado marxista-leninista, foi possível precisamente por causa dessa ruptura. Foi isso que abriu caminho para o desenvolvimento de um novo, superior e terceiro estado da ideologia proletária. Por outro lado, em nome da defesa de Stalin, Enver Hoxha se prender a seus erros e terminou como um renegado. Esta também foi a trajetória inevitável seguida pelo PCN (Mashal). Podemos esperar que fração expulsa do CCMI também a siga, especialmente depois de terem atacado as guerras populares no Peru e no Nepal como aventureirismo de “esquerda”; uma fraseologia frequente do BV e do PCN (Mashal). Esta discussão nos ajuda a compreender como a sua metafísica complementa o seu idealismo em questões ideológicas.

Por muito tempo antes de sua expulsão do MIR, enquanto dizia defender o Pensamento Mao Tsé-tung, o PCN (Mashal) cultivou uma linha que era essencialmente direitista. Os maoistas aceitam a teoria da guerra popular como um desenvolvimento geral da ciência militar proletária. Mas para o PCN (Mashal) isso foi apenas tático. Enquanto Mao fala de uma situação revolucionária continuamente existente nos países semicoloniais, o PCN (Mashal) foi enfático na imposição de análise de Lênin sobre a situação revolucionária relacionada aos países capitalistas. Todos esses foram, por muito tempo, aspectos essenciais da linha do PCN (Mashal). Uma exposição precisa dessas posições direitistas só aconteceu depois que o PCN (Maoista) [na época o PCN (Centro Unificado)] adotou o MLM e desenvolveu uma linha revolucionária. De fato, esta ruptura com o direitismo dominante no movimento maoista do Nepal abriu o caminho para a guerra popular e seu rápido avanço. Por outro lado, apesar do seu legado duradouro de luta contra o revisionismo de Deng, o ataque do PCN (Mashal) ao maoismo rapidamente abriu as postas para a sua degeneração em uma ferramenta dos reacionários.

 


 

Essas experiências nos colocam uma importante questão levantada pela luta para estabelecer o maoismo. Aparentemente, a adoção do maoismo é apenas uma questão de terminologia. Ainda assim, nos dois casos que vimos acima ela levou a muitos conflitos e mostrou a lama revisionista se escondendo por trás da bandeira do marxismo-leninismo-pensamento Mao Tsé-tung. Ela revelou diferenças profundas no interior do MIR, do movimento nepalês e do CCMI sobre o que exatamente se compreendia como a universalidade das contribuições de Mao. Ela colocou questões precisas sobre o que se entende ao afirmar que o maoismo é um estado novo ou superior. Inevitavelmente, estas diferenças eram de uma natureza vital, afetando todos os aspectos da linha do Partido e da prática. O que era aparentemente apenas uma questão de mudança na terminologia se mostrou como uma de grande significação ideológica. Se esta questão não for entendida como tal, a adesão ao maoismo irá permanecer apenas uma formalidade. Não esqueçamos que o endurecimento da luta contra o revisionismo nunca pode ser o resultado automático de um novo termo por si mesmo.

É verdade que a lista formal comparando o pensamento Mao Tsé-tung e o maoismo nunca irá revelar nada de novo. Mas não é essa a questão, e devemos estar atentos para evitar esta armadilha formalista colocada pelos adversários do maoismo. O pensamento Mao Tsé-tung e o maoismo não são a mesma coisa. Há algo novo aqui.  Algo novo de grande importância ideológica está sendo conquistado com a adesão ao maoismo. E esta novidade não está tanto no termo como tal. Ela está na ruptura com uma forma incompleta ou fraturada de compreender a universalidade das contribuições de Mao tomadas como um todo e no salto para uma compreensão superior, melhor e mais profunda de nossa ideologia. Evidentemente, qualquer elaboração que continue a enfatizar que nada de novo é acrescentado irá fracassar na mobilização de todo o Partido e em liderá-lo na implementação desta ruptura. A tarefa de atualizar este grande potencial de uma retificação ideológica vigorosa para atingir uma compreensão melhor do MLM seria realizada de maneira parcial. Ou, pior ainda, ela seria deixada para a espontaneidade.

Uma das forças do documento de 1993 do MIR sobre o MLM é que ele aborda este ponto perfeitamente. O MIR surgiu de uma luta ideológica mundial consistente contra o revisionismo de Deng e Hua e contra o revisionismo dogmático de Enver Hoxha. A sua declaração de 1984 corretamente apontou o desenvolvimento qualitativo do marxismo-leninismo por Mao Tsé-tung e afirmou que ele o elevou a um novo estado. Ainda assim, apesar de suas posições ideológicas avançadas, ficou muito claro que a adoção do MLM não era apenas uma questão de mudança de termos. A experiência dos partidos no MIR que adotaram o MLM, claramente apontou a importância ideológica desta mudança. Isso foi sintetizado nas seguintes palavras: “(...) o uso do termo ‘pensamento Mao Tsé-tung’ em nossa Declaração refletia uma compreensão ainda incompleta desse novo estado. Nos últimos nove anos nosso movimento se dedicou a uma discussão e uma luta longas, ricas e consequentes para compreender mais profundamente o desenvolvimento do marxismo por Mao Tsé-tung. Durante este mesmo período os partidos e organizações de nosso movimento e do MIR como um todo estiverem envolvidos em uma luta revolucionária contra o imperialismo e a reação. Mais importante ainda foi a experiência avançada da guerra popular dirigida pelo Partido Comunista do Peru, que conseguiu mobilizar as massas aos milhões, varrendo o Estado em muitas partes do país e estabelecendo o poder dos operários e camponeses nessas áreas. Estes avanços, na teoria e na prática, nos permitiram aprofundar ainda mais nossa compreensão da ideologia proletária e nestas bases dar um passo importante, o reconhecimento do marxismo-leninismo-maoismo como o novo, terceiro e superior estado do marxismo” (A World To Win, nº20, p.4, a ênfase é nossa). Sim, este aprofundamento a mais de nossa compreensão da ideologia proletária é exatamente a questão central da adesão ao maoismo. Ele deve ser adotado nestas bases e apenas nestas bases se ele deve iluminar o caminho adiante e derrotar o revisionismo.

A luta pelo maoismo mais uma vez levantou uma polêmica duradoura no interior do MCI. O “ismo” e o “pensamento” são a mesma coisa? A diferença entre eles é apenas uma questão de expressão melhor? E como eles se relacionam com a linha e as lições de uma revolução específica? O debate sobre estas questões está apenas se formando. Assim, as afirmações a seguir são necessariamente preliminares.

O Sétimo Congresso do Partido Comunista da China (PCCh), acontecido em 1945, afirmou que o marxismo-leninismo e o pensamento Mao Tsé-tung eram sua ideologia guia. Ele também afirmou que este pensamento é específico da China. Mas mesmo uma rápida pesquisa nos mostra que muitas contribuições importantes do que agora está definido como o maoismo já haviam se desenvolvido e sido testadas por muitos anos de prática revolucionária. A teoria da revolução de nova democracia, a guerra popular, o conceito de capitalismo burocrático, a linha de massas, o desenvolvimento do conceito de partido, a frente única, as retificações teóricas e ideológicas, além das contribuições filosóficas de Mao são algumas delas. Todas elas foram desenvolvidas pela luta contra os oportunismos de direita e de “esquerda”, o trotskismo e o dogmatismo. Em especial, a aplicação criativa de Mao do marxismo-leninismo estava relacionada de maneira próxima a uma luta dura contra uma cópia mecânica das experiências russas. E sabemos que as fontes internacionais destes desvios eram a Comintern e Stalin. Isso colocava um problema complexo. Com bastante razão, Stalin era considerado como um líder internacional de autoridade naquele período histórico. Algumas das posições básicas defendidas por esta direção sobre a revolução mundial em geral e a Revolução Chinesa em particular eram corretas e deviam ser defendidas. Ao mesmo tempo, havia também alguns pensamentos e posições errados que deviam ser retificados. Assim, não seria equivocado afirmar que o termo “pensamento Mao Tsé-tung” surgiu da necessidade encarada pelo PCCh de voltar atenção e claramente estabelecer as ideias distintas que o guiavam, em comparação com o pensamento aceito e dominante no MCI. Em todo caso, o que é mais importante é a natureza das contribuições de Mao neste mesmo momento. Elas já haviam conquistado um caráter universal. De fato, elas representavam, e ainda representam, a única compreensão marxista correta do caminho para a revolução nos países coloniais e semicoloniais (o MCI reconheceu isto apenas quatro anos mais tarde). Além disso, as contribuições de Mao já representavam um avanço na compreensão marxista-leninista sobre o partido, a construção do partido, a frente única e a linha de massas. Todas estas são válidas para ambos os tipos de países, ou seja, os países imperialistas e as nações oprimidas (como sabemos, isso foi estabelecido no MCI apenas depois da revolta dos maoistas contra o revisionismo kruschevista dos anos 1960). Assim, quando o PCCh usou o termo “pensamento” em 1945 e afirmou que ele era específico da China, isso já representavam um desenvolvimento qualitativo substancial do marxismo-leninismo, testado pela prática e tendo significação universal.

No entanto, este desenvolvimento posterior não era um simples acréscimo. No processo de dirigir uma revolução socialista e a luta contra o revisionismo moderno, Mao Tsé-tung levou a ideologia proletária a novas alturas. Em especial, ele atingiu um desenvolvimento completo e deu um grande salto com a Grande Revolução Cultural Proletária (GRCP). A própria GRCP deu um grande impulso e abriu o caminho para a declaração destes pontos no Nono Congresso do PCCh. Uma parte importante do relatório do Congresso é uma exposição sistemática explicando o que é novo na teoria de Mao Tsé-tung da revolução contínua sob a ditadura do proletariado. O termo “pensamento” foi mantido. Mas a sua universalidade, o seu papel no desenvolvimento de um terceiro marco no desenvolvimento da ideologia proletária m tinha que ser afirmada e estabelecida. O relatório do Nono Congresso declarou que Mao Tsé-tung havia levado o marxismo-leninismo a um estado superior e completamente novo. Ele sancionou o termo marxismo-leninismo-pensamento Mao Tsé-tung. O processo pelo qual o “pensamento” de 1945 alcançou a altura de um estado completamente novo em 1969 é bastante claro. Também é clara a diferença entre o “pensamento” de 1945 e o de 1969. Ainda que as contribuições Mao Tsé-tung tenham atingido um caráter universal em 1945, isso foi superado amplamente pela altura atingida com a GRCP. Ela realmente fez por merecer o termo maoismo. Isso era bastante evidente por seus conteúdos e pelo papel que ela teve no avanço do MCI. Não se pode supor que o PCCh evitou adotar o maoismo por causa da situação particular que existia no MCI naquele momento. Alguns tentaram usar os esclarecimentos do relatório do Décimo Congresso de 1973 sobre a era e o leninismo para defender que o termo “pensamento” foi mantido exatamente por estas razões. Mas esta lógica vai contra o reconhecimento do estado completamente novo sancionado pelo Nono Congresso e mantido posteriormente.

 

 


 

Esta revisão nos leva a concluir que o “ismo” e o “pensamento” devem ser distintos um do outro. Enquanto o “pensamento” também universal, o “ismo” deve ser compreendido como um desenvolvimento completo da ideologia que a eleva a um novo estado. A diferença não é uma de mais ou menos universalidade, mas de um desenvolvimento mais ou menos completo da ideologia que a eleva a um novo estado. Com a ajuda dessa compreensão podemos examinar o processo pelo qual a aplicação de uma linha revolucionária gera um desenvolvimento da ideologia proletária.

A “linha” é específica a um país e um partido. Ela é uma particularidade. Mas se ela é formulada pela aplicação criativa e correta do MLM, esta particularidade contém a universalidade do MLM. Ela reflete esta universalidade. No curso de sua formulação, aplicação, testagem pela prática e desenvolvimento, ela produz uma nova compreensão do MLM. Ela também pode gerar novos conceitos ou contribuições. As leis da revolução expressas pelo MLM são universais. Mas, como Lênin apontou, cada lei “congela” a realidade. Ela é incompleta, relativa. Assim, a aplicação das leis e princípios do MLM para mapear o curso da revolução em qualquer país também exige o enriquecimento, o desenvolvimento e a compreensão conceitual destas leis. Caso contrário, seria o caso de cortar os pés para poder calçar o “sapato” das leis. Este é o ponto da aplicação criativa. De fato, a aplicação criativa do MLM exige precisamente saltos conceituais deste tipo para a compreensão das leis universais estabelecidas pelo MLM. E assim, por sua aplicação na descoberta e no manejo das leis específicas de uma revolução particular, as leis universais do MLM se tornam mais completas, mais capazes de compreender o movimento complexo e contraditório da totalidade da sociedade humana. Mesmo que o desenvolvimento de uma revolução apenas de início a uma nova compreensão do MLM, isto ainda seria um desenvolvimento qualitativo. Ele ainda ofereceria lições para todo o contingente do MCI. Algumas revoluções podem atingir ainda mais e gerar novos conceitos ou contribuições. Mas o ponto a ser enfatizado é que tudo isso é possível mesmo quando ainda existe apenas uma “linha” e não um “pensamento”. Ou, em outras palavras, um novo “pensamento” não é uma condição necessária para novas contribuições no enriquecimento de nossa ideologia.

Como afirmado no início de nossa discussão sobre o “ismo”, o “pensamento” e a linha, essas posições são bastante preliminares. Mais estudo e debate é necessário para abordar o problema. Em todo caso, todo este debate implica a promessa de que o MCI possa atingir uma compreensão mais profunda de todo o processo de desenvolvimento da ideologia proletária. Isso não seria apenas uma questão de definições ou critérios para separar o “ismo” do “pensamento” ou da linha. Ele daria um impulso tremendo às fileiras do MCI para realizar suas tarefas com a aplicação criativa do MLM.

Anteriormente, havíamos mencionado o desenvolvimento completo e o grande salto conquistados com a GRCP. Para sermos mais precisos “(...) foi no cadinho da Grande Revolução Cultural Proletária que nossa ideologia deu um salto e o terceiro marco do marxismo-leninismo-maoismo surgiu completamente” (citado a partir do documento do MIR sobre o MLM, A World To Win, nº20, p.9). Este ponto deve ser enfatizado e compreendido de maneira séria, especialmente no contexto dos brutais ataques revisionistas à GRCP. Também é necessário, na posição da confusão contínua difundida por neo-revisionistas como o PCN (Mashal) que apresenta a GRCP como nada mais do que uma questão da continuação da luta de classes na sociedade socialista, ir adiante para defender que ela já era concebida pelos grandes líderes do proletariado e assim negar o caráter “novo” da GRCP. Na citação mencionada acima, as palavras principais são “salto” e “surgiu completamente”. A GRCP era, sem dúvidas, uma continuação da luta de classes na sociedade socialista. Mas, mais do que isso, ela foi o ponto mais alto atingido pela revolução proletária mundial. E isso surgiu de certos estudos novos e pioneiros feitos por Mao Tsé-tung sobre o caráter contraditório da sociedade socialista. Tomando as lições das experiências da União Soviética, ele cegou à conclusão clara de que a questão de “quem venceu” (o proletariado ou a burguesia) ainda não havia sido decidida. Ele foi adiante identificando quem era a burguesia na sociedade socialista, suas raízes e o centro de seu poder. Ele também descobriu como lutar contra ela e como derrota-la. Esta foi a ponta do salto na ideologia em todos os seus três componentes. Uma comparação da elaboração feita no relatório do Nono Congresso com as alturas maiores atingidas pela luta contra os ventos direitistas de Lin Piao e Deng torna mais amplamente evidente que este salto tomou forma no curso da GRCP, até a morte de Mao Tsé-tung e o golpe capitalista. É por isso que é necessário e correto dizer que este salto “surgiu completamente” durante a GRCP. Isto nos lembra da necessidade de realizar um estudo aprofundado de todo o maoismo tal como se desenvolveu através da GRCP e nos adverte contra desviar nossa atenção.

Neste contexto é necessário insistir que este salto também contém uma análise surpreendente dos diversos aspectos da luta de classes na China socialistas, feita pelos seguidores genuínos de Mao Tsé-tung. Entre eles, a exposição precisa das raízes materiais da restauração capitalista vista nos trabalhos de Chang Chunqiao e Yao Wenyuan merece atenção especial (“Sobre exercer ditadura completa sobre a burguesia” de Chang Chunqiao” e “Sobre as bases sociais da claque antipartido de Lin Piao” de Yao Wenyuan; ainda que mais tarde Yao tenha capitulado, seu trabalho permanece uma importante contribuição). Mao Tsé-tung observou que “(...) a China é um país socialista. Antes da libertação, ela era o mesmo que um país capitalista. Mesmo agora, praticamos um sistema salarial de oito níveis, a distribuição de acordo com o trabalho e a troca pelo dinheiro, e tudo isso é muito pouco diferente da velha sociedade. O que é diferente é que o sistema de propriedade mudou” (And Mao Makes Five, p. 221). Ele também disse que “Nosso país atualmente pratica um sistema de mercadorias, o sistema salarial também é desigual, como na escala salarial de oito níveis, e daí em diante. Sob a ditadura do proletariado coisas como estas só podem ser restringidas. Assim, se pessoas como Lin Piao chegarem ao poder, será bastante fácil para elas recompor o sistema capitalista. É por isso que precisamos estudar mais os trabalhos marxistas-leninistas (And Mao Makes Five, p. 209). Partindo daí, Chang Chunqiao e Yao Wenyuan foram adiante para apontar como a continuidade da existência do direito burguês oferecia o solo parar a geração de uma nova burguesia, porque este solo deveria ser continuamente retirado e porque isso deveria continuar por todo o caminho até o comunismo, uma vez que o direito burguês só pode ser restringido pelo socialismo. Estas exposições armaram os maoistas com uma compreensão profunda do perigo da restauração capitalista e eram de imensa ajuda para uma compreensão rápida do que estava acontecendo na China depois do golpe. Além disso, a luta dirigida pela camarada Chiang Ching contra a linha de Hua Guofeng de impulsionar a modernização (por oposição à luta de classes) como a chave para avançar a socialização da agricultura também deve ser mencionado, uma vez que Hua ainda é considerado por alguns como um elemento honesto, ainda que fraco.

Nos anos 1960, o camarada Charu Mazumdar escreveu que “(...) hoje, quando temos o brilhante pensamento do Presidente Mao Tsé-tung, o estado superior de desenvolvimento do marxismo-leninismo, para nos guiar, é imperativo julgarmos tudo sob a luz do pensamento Mao Tsé-tung e construir uma via completamente nova sobre a qual avançar” (“Chamado do Partido aos estudantes e jovens”, de The Historic Turning Point, volume 2, p. 36, a ênfase é nossa).

Esta direção crucial é mais uma vez vista no documento de 1993 do MIR em que é dito que “Do plano superior do marxismo-leninismo-maoismo os comunistas revolucionários puderem compreender os ensinamentos dos líderes anteriores de maneira ainda mais potente e até mesmo as contribuições anteriores de Mao Tsé-tung assumiram uma significação mais profunda. Hoje sem o maoismo não pode haver marxismo-leninismo. De fato, negar o maoismo é negar o próprio marxismo-leninismo” (A World To Win, nº20, p. 9, a ênfase é nossa).

Sim, hoje a chave para compreender a ideologia proletária é compreender firmemente o maoismo. Dizer isso não é de modo algum separar o maoismo do todo integral do marxismo-leninismo-maoismo. Pelo contrário, é crucial enfatizar o maoismo para aprofundar a luta contra o revisionismo e todos os outros pensamentos estranhos. Devemos apoiar, defender e aplicar o marxismo-leninismo-maoismo, especialmente o maoismo.

 

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