Nota sobre Trotsky e o problema da burocracia

 

 


Pensamos que o problema da burocracia é um problema fundamental para o marxismo revolucionário, mas que foi colocado de maneira completamente deformada pelo trotskismo. A burocracia é a principal semente do revisionismo no interior do aparelho de Estado soviético e, como efeito, já era um problema identificado por Lênin ao fim de sua vida. O camarada Stalin foi, em meados dos anos 1920, encarregado da função de combatê-la e controlá-la através da Inspeção Operária e Camponesa. Se alguns erros de seu estilo de direção e de seu plano econômico puderam reforçar o desenvolvimento da burocracia foi, sobretudo, por não ter encontrado as ferramentas corretas para combatê-la (ferramentas que só seriam desenvolvidas pelo Presidente Mao ao longo da Revolução Chinesa). Que Stalin tenha, no entanto, combatido a burocracia com os métodos que conhecia, isto é evidente pela história do PCUS.

A farsa trotskista que afirma que o camarada Stalin era diretamente responsável pela burocratização ou que ele era um representante da burocracia no interior do Partido é pura e simplesmente uma deformação da história. O momento mais sintomático das verdadeiras posições nesta questão é o debate sobre os sindicatos iniciado por Trotsky no início dos anos 1921.

Trotsky vinha de uma longa experiência militar no Exército Vermelho. Se, em parte, Trotsky havia sido responsável por uma série de sucessos na Guerra Civil revolucionária, por outro lado ele havia reintroduzido métodos disciplinares e formas de organização burguesas no exército. Ao assumir, a direção do Departamento de Vias Férreas (Tsektran), Trotsky enfrenta a resistência dos sindicatos operários a seus métodos de trabalho e contra suas propostas sobre a "militarização do trabalho" (que envolviam o trabalho obrigatório, o deslocamento burocrático da força de trabalho e a transformação dos sindicatos em correias de transmissão da política do Partido).

Como resposta à resistência sindical, Trotsky ameaça "sacudir" os sindicatos e imediatamente enfrenta a oposição de Lênin, que defende a independência relativa dos sindicatos e seu papel como "escolas do socialismo" e na defesa contra as deformações burocráticas no Estado soviético. Ainda no ano de 1921, Stalin critica abertamente a Trotsky e defende a necessidade da utilização de métodos democráticos na relação com os sindicatos no texto "Nossas divergências":

 

"Nossas divergências são sobre as questões dos meios pelos quais fortalecer a disciplina do trabalho na classe trabalhadora, os métodos de abordagem da massa dos trabalhadores que estão sendo atraídos para o trabalho de revitalizar a indústria, as maneiras de transformar os atuais fracos sindicatos em sindicatos poderosos e genuinamente industriais, capazes de reviver nossa indústria.

Existem dois métodos: o método de coerção (o método militar) e o método de persuasão (o método sindical). O primeiro método de forma alguma exclui elementos de persuasão, mas estes estão subordinados às exigências do método de coerção e são auxiliares deste último. O segundo método, por sua vez, não exclui elementos de coerção, mas estes estão subordinados aos requisitos do método de persuasão e são auxiliares deste último. É tão inadmissível confundir esses dois métodos quanto confundir o exército com a classe trabalhadora.

Um grupo de trabalhadores do Partido encabeçado por Trotsky, embriagado pelos sucessos alcançados pelos métodos militares no exército, supõe que esses métodos podem, e devem, ser adotados entre os trabalhadores, nos sindicatos, a fim de alcançar sucessos semelhantes no fortalecimento do sindicatos e na revitalização da indústria. Mas este grupo esquece que o exército e a classe trabalhadora são duas esferas diferentes, que um método adequado para o exército pode revelar-se inadequado, prejudicial, para a classe trabalhadora e seus sindicatos.

(...) Alguns acham que falar de democracia nos sindicatos é mera declamação, uma moda, provocada por certos fenômenos da vida interna do Partido, que, com o tempo, as pessoas vão se cansar de ‘tagarelar’ sobre democracia e tudo vai continuar no ‘à moda antiga’.

Outros acreditam que a democracia nos sindicatos é, essencialmente, uma concessão, uma concessão forçada, às demandas dos trabalhadores, que é diplomacia e não um negócio sério e real.

Nem é preciso dizer que os dois grupos de camaradas estão profundamente enganados. A democracia nos sindicatos, ou seja, o que costuma ser chamado de "métodos normais de democracia proletária nos sindicatos", é a democracia consciente característica das organizações da classe trabalhadora de massa, que pressupõe a consciência da necessidade e utilidade de empregar sistematicamente métodos de persuasão entre os milhões de trabalhadores organizados nos sindicatos. Se essa consciência estiver ausente, a democracia se tornará um som vazio.

Em suma, a democracia consciente, o método da democracia proletária nos sindicatos, é o único método correto para os sindicatos industriais.

A ‘democracia’ forçada nada tem em comum com esta democracia.”

 

Os materiais trotskistas sistematicamente evitam esta questão, omitindo tanto os textos de Trotsky, quanto de Lênin e Stalin sobre o problema. E o fazem, evidentemente, porque Trotsky era o principal representante da linha burocrática no interior do Partido. Quando, ao fim da vida, Lênin critica Trotsky por seu apego ao “aspecto administrativo das coisas” é justamente deste problema que se trata. Assim, podemos afirmar que a vitória do trotskismo e de sua linha burocrática abriria caminho para uma ascensão acelerada do revisionismo, o mesmo revisionismo que foi bloqueado pelas décadas da direção de Stalin. Quando os trotskistas falam em democracia operária e criticam os processos de burocratização, têm um cadáver na boca.

 Deixamos aqui a nossos leitores os links para as versões em português e espanhol dos textos centrais sobre a questão:

 

- de Trotsky, conferir, Sobre el Ejercito de Trabajo, em https://www.marxists.org/espanol/trotsky/1920/marzo/23_iii.htm, e Terrorismo y comunismo, capítulo IV, em https://www.marxists.org/espanol/trotsky/1920/mayo/1920-05-00-terrorismoycomunismo.pdf;

 

- de Lênin, conferir, Sobre os sindicatos, o momento atual e os erros de Trotsky, em https://www.marxists.org/portugues/lenin/1920/12/30.htm, e Mais uma vez sobre os sindicatos, o momento atual e os erros dos camaradas Trotsky e Bukharin¸em https://www.marxists.org/portugues/lenin/1921/01/26.htm;

 

- de Stalin, Nuestras discrepâncias em Obras – Tomo V (1921-1923), pp. 5-8, disponível em https://www.marxists.org/espanol/stalin/obras/oe15/index.htm;

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